Meias Trocadas
Quantas vezes na hora da pressa você pegou qualquer meia na gaveta e quando percebeu, os pés estavam trocados e pela falta de tempo, calçou-as assim mesmo?

Talvez seja essa a métrica da vida: viver usando meias trocadas. E não há problema nenhum nisso.
Por que dividir as coisas se podemos criar laços entre elas?
Qual a necessidade de ser certinho?
Para quem estamos vivendo? Para nós mesmos ou para quem nos observa?
Será que vale mesmo não usar um par de meias trocadas só porque alguém falou que elas deveriam ser da mesma cor?
Ouvi uma coisa da minha mãe quando era adolescente e nunca esqueci. Estava me arrumando para sair e reclamei de usar uma camisa pois já havia usado-a dias antes. Ela com sua voz serena respondeu: "Você vai e volta com essa repetida e ninguém que estiver reparando nisso vai te dar uma camisa nova." Engoli em seco, resignado. Contudo, naquele momento percebi quantas verdades havia naquelas palavras.
Hoje trago essa lição comigo: por que sempre devo fazer o que apraz os olhares de quem está do lado de fora? Até que ponto viver em sociedade é abrir mão de quem eu sou? Se preciso fazer o que querem que eu faça e não o que realmente desejo.
Quantas vezes não compramos algo apenas para ser igual aos demais? Estou falando exatamente da mesma peça, onde a única diferença é a etiqueta e o preço, obviamente. Fato comum em roupas compradas diretamente na fábrica.
Usar meias trocadas é um grito de liberdade dentro de um padrão silencioso que nos priva de ser quem realmente somos. Uma moral contaminada pelo egocentrismo e pela perda do amor próprio.
Agradar o outro é mais importante do que agradar a si? Abrir mão do que quero tem mais peso do que imitar alguém que nunca saberá da minha existência?
É tempo de bagunçar as gavetas e viver tudo o que a troca dos pés de meia nos permitir.