Nossos Eternos Instantes

15/06/2023

Em 2020, numa pequena viagem que fiz, estava pensando sobre a brevidade da vida e os pequenos momentos que nos tornam eternos. Nos últimos dez anos perdi muitas pessoas importantes na minha vida. Dentre tantos, destaco algumas situações que me fazem refletir sobre a importância dos momentos.

Em 2010 fui atravessado por uma das maiores dores que experimentei na vida. Perdi meu irmão mais velho, o primogênito. Fabiano ficou hospitalizado, entre idas e vindas, por quase 3 meses. Ele faleceu em 20 de agosto. No dia 15 estava com ele no trauma e perguntei à enfermeira se poderia aparar seu cabelo e fazer sua barba. Ela autorizou e ali tivemos alguns minutos nossos. Dentro daquele hospital, fizemos o ritual tão comum em casa. Horas depois ele precisou ser entubado e jamais retornou.

Em 2013 chorava a dor da perda do meu primo/irmão. Juninho era meu aluno, meu primo e meu irmão. Fomos criamos juntos desde sempre e isso nos aproximou muito. Acometido de uma doença devastadora, foram inúmeras internações. Ele, forte como uma rocha, nos colocava pra cima com seu sorriso contagiante. Na última internação, estive com ele no quarto. Ele não podia falar, entrei e sorri para ele. Tentei não chorar. Ele sorriu de volta e ensaiou um 'Eu te amo'. Fiz um coração com as mãos e retribuí a declaração de amor. Essa foi nossa última conversa.

O ano de 2014 trouxe outras duas perdas. Era abril e eu estava mudando de emprego. Deixava para trás quase 4 anos de amizades e uma rotina quase familiar. Menos de uma semana depois de sair da empresa, esbarrei com minha grande amiga Midiã numa loja no centro da cidade. Na correria fomos à farmácia e passamos na sorveteria enquanto contava pra ela todas as novidades do novo trabalho. Menos de uma semana depois recebia a notícia de seu falecimento. Caso não tivesse esbarrado com ela na semana anterior, meu coração teria um peso inimaginável. Tivemos ali nossa despedida. Só nossa.

Três meses depois, num domingo chuvoso, estava pronto para um aniversário e no meio do caminho mudei de ideia e resolvi ir almoçar com minha avó Ruth. Passamos a tarde juntos. Deitei a cabeça em seu colo e recebi o tão gostoso cafuné. Falamos de tantas coisas só nossas. Lembro de não ter ninguém em casa, éramos nós dois. No dia seguinte, depois de um dia inquieto, acordo no meio da madrugada com uma chamada do meu pai. Jamais esquecerei suas palavras: 'Filho, desce aqui. Estou no portão'. Já desci despedaçado, minha avó havia partido.

E fecho as lembranças com a perda mais recente. Era domingo. Um dia corrido. Estava na cozinha fazendo bolo quando recebi a solicitação de uma chamada de vídeo com a Clara e a Elza, duas grandes amigas e parceiras da literatura. Rejeitei e pedi uns minutos enquanto terminava o bolo. Logo depois estávamos conectados. Foram poucos minutos. Rimos, tratamos alguns assuntos da antologia, rimos de novo e nos despedimos. No outro dia, era 20 de Julho, Dia do Amigo. Demos 'bom dia' em nosso grupo de três, trocamos felicitações e algumas horas depois chorávamos a morte da Elza. Aquela chamada de vídeo nos marcou para sempre. Foi nossa despedida.

As situações acima revelam a importância dos pequenos momentos. Quantas vezes temos oportunidade e as desperdiçamos? Não tenha medo de dizer 'Te amo'. Não hesite em tomar um sorvete com os amigos ou almoçar com quem amamos. Faça algo 'simples' junto de alguém especial. Não permita que a rotina de impeça até mesmo trocar mensagens num dia corrido.

Marlos Quintanilha - Blog de literatura
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